A Pesca Artesanal Corre Risco de Extinção?

Segundo um pescador Ailton Vieira a tradição está ameaçada pelo pequeno retorno econômico, falta de fiscalização e de  política de incentivos e preservação específica. Ele conta como os barcos industriais e até a burocracia tiram, literalmente, o alimento e a renda do pescador artesanal.

 

Como está produção da pesca artesanal?

 

Está diminuindo, há 3 anos pegamos cerca de 7 mil tainhas, em 2012 foram cerca 2.800 tainhas e em 2013 apenas 1600. Isso na Gamboa, mas tem praia no nosso litoral que nem molhou a rede.

 

Quais os fatores que provocam essa queda na produção?

 

São vários. A maior reclamação da praia é que os pescadores industriais das lanchas invadiram o espaço do pescador artesanal. Tem uma lei que proíbe as lanchas de pescarem a menos de 800 metros da praia, mas parece que não tem lei, pois eles (as lanchas) não respeitam e as autoridades competentes não tomam providências. Quando chamamos a fiscalização, eles só vêm depois que as lanchas foram embora. E a policia Ambiental ( responsável pela fiscalização) nem lancha tem.

 

Outro problema esse ano foi a burocracia. A tainha veio mais cedo ( lá por 2 de maio) e a liberação para a pesca veio só no dia 15 de maio. A natureza respeita o calendário lunar ( o mesmo que define carnaval, páscoa, etc...) e calendário do governo não leva isso em consideração. Um dos pedidos dos pescadores artesanais é liberar a pesca no dia 1º de Maio para adequar os papéis de liberação ao que realmente acontece no mar. Dependemos disso, quando tem um clima favorável a pesca, nesse ano, não tinha liberação para pescar.

 

E tem outros fatores. Um antigo pescador daqui disse: “ A pesca da tainha tem tudo a ver com os ventos e as marés (as quadras como ele chama) mas não é só isso, os cações faziam as tainhas beirar a praia, mas hoje o cação está em extinção” (provavelmente por causa da pesca industrial). “ Antes os pescadores não escolhiam o maior cardume de tainhas, escolhiam o que tinha menos cação, pois estes rasgavam as redes.

 

A situação pode melhorar? Como?

 

A Anchova é um bom exemplo, está até aumentando a pesca desse peixe por causa do defeso. Se fizéssemos o mesmo com a tainha (pagar o defeso aos pescadores) por 2 anos, no terceiro com certeza ia dar muito mais tainha.

 

Dá pra viver da Pesca da Artesanal?

 

Hoje, do jeito que ta, não dá. Fazemos a pesca por uma questão de tradição e para manter viva uma cultura. Já nossos filhos não têm interesse em continuar. Não tem ninguém querendo aprender a remar, por exemplo, não vale o esforço comparado com o dinheiro arrecadado.

 

O que significa pra você a Pesca Artesanal?

 

Era um meio de vida, hoje é uma tradição, uma alegria, uma herança dos nossos antepassados e uma festa para toda a comunidade.

foto gentilemnte cedida por gamboachales.com.br